Marcel Vincenti
Colaboração para Nossa
24/05/2020 04h00
Há pessoas cuja grande paixão da vida é viajar. É o meu caso: nos últimos 15 anos, grande parte do dinheiro gerado pelo meu trabalho foi empregado em passagens aéreas, diárias de hostels e passeios por lugares dentro e fora do Brasil.
Estar em movimento constante, explorando novas paisagens e culturas, é fonte de enorme felicidade para gente que, como eu, possui o chamado “wanderlust” (termo em inglês, muito usado no mundo do turismo, que pode ser traduzido como “desejo por perambular”).
Mas como ficam os amantes de viagens nesta época de pandemia, com fronteiras internacionais fechadas, voos cancelados, destinos turísticos interditados e a necessidade de permanecer em casa?
Para vencer a frustração gerada pelo confinamento, desenvolvi cinco hábitos que têm aplacado a saudade de cair na estrada e deixado a quarentena um pouco mais suportável.
Relembrar
No início da quarentena, achei que seria triste olhar minhas antigas fotos de viagem e perceber que aquele mundo, retratado em um passado distante, pode nunca mais ser o mesmo por causa do coronavírus.
Mas foi o contrário: ao desenterrar fotografias tiradas há anos e em viagens feitas para lugares longínquos, imediatamente me recordei de belas histórias que vivi naquelas jornadas.
Dei risada lembrando do dia em que fui atacado por uma vaca em uma rua de Nova Déli, me inspirei ao rememorar um pôr do sol incrível que presenciei na Polinésia Francesa e fiquei feliz ao lembrar da gentileza absurda com que fui tratado no Irã.
De repente, me veio uma sensação de saciedade, gerada pela memória de todas estas experiências intensas que vivenciei.
Faça o mesmo: percorra suas fotos de viagem e deixe que elas gerem sentimentos positivos em você. É um remédio infalível contra o clima pesado causado pela pandemia.
Reconectar-se
Retomar contato com pessoas que você conheceu em viagens também pode ser um bom método para diminuir (pelo menos um pouco) a ânsia de voltar a cair na estrada.
Com frequência, tenho batido papo com amigos que fiz em outros países e com quem não falava há muito tempo.
Nestas conversas, costumamos lembrar de boas histórias que vivemos juntos durante as viagens: são memórias faladas que, assim como as fotos, me dão sensação de saciedade e alegria.
Também gosto de saber como está a vida atual destes velhos conhecidos.
Uma amiga egípcia que mora no Cairo me conta que, na cidade, há longos toques de recolher para diminuir a disseminação do coronavírus.
Já um amigo norte-americano, nova-iorquino raiz, me manda fotos de apetitosas cervejas que têm tomado na quarentena, classificando-as como “sua terapia” nestes tempos difíceis.
São conversas que me fazem lembrar que, neste momento de crise, o mundo inteiro está no mesmo barco. E é bom saber que, por todo o globo, há pessoas comprometidas com a quarentena.
Ter experiências culturais
Aplaco um pouco desta carência praticando um idioma estrangeiro: estudo italiano há alguns anos e, no confinamento, tenho tentado colocar a língua em prática com a maior frequência possível, puxando papo, na internet, com antigos conhecidos italianos e fazendo contato com novas pessoas nativas da Bota, em grupos que existem no Facebook.
Entabular conversas em italiano tem sido, para mim, uma grande terapia, pois me coloca em um intercâmbio de ideias com pessoas estrangeiras e me dá uma experiência cultural intensa sem ter que sair de casa.
Se você estuda algum idioma estrangeiro, desenrole a língua nesta quarentena. Hoje, há diversos apps através dos quais é possível conhecer pessoas de outros países e praticar um idioma com elas.
Ver filmes de viagem
Recentemente assisti, no Telecine Play, ao filme “A Vida Secreta de Walter Mitty”, no qual o personagem interpretado por Ben Stiller viaja para Islândia, Groenlândia e região do Himalaia – tudo para encontrar um fotógrafo interpretado por Sean Penn e pegar algo valioso que, teoricamente, está com ele.
As imagens exibidas no filme (especialmente da Islândia, com suas montanhas, cachoeiras e estradas que parecem saídas de um quadro) são incríveis e, pelo menos por um momento, diminuíram minha ânsia de viajar.
“Na Natureza Selvagem”, “Diários de Motocicleta” e “Comer, Rezar, Amar” são outros filmes que podem fazer você viajar sem sair de casa nesta quarentena.
Sonhar com viagens futuras
Por causa do coronavírus, ainda não é possível saber quando será possível viajar com segurança novamente – ou quando o mundo do turismo voltará a operar em um nível minimamente normal.
Porém, mesmo reconhecendo a gravidade da situação, continuo acalentando meus sonhos de viagem.
Tenho vontade de fazer uma grande jornada pela Argélia, para explorar as paisagens urbanas da cidade de Argel e explorar o enorme deserto que existe no país.
Tenho vontade de realizar uma viagem pelo sul do México, visitando as selvas da região de Chiapas e as praias de Oaxaca.
Quero muito ir para a Bolívia, encontrar familiares que tenho no país andino.
Mesmo sem saber quando conseguirei realizar estes anseios, não deixo de preservá-los na minha lista de metas de vida e estou sempre lendo sobre os atrativos destes locais.
Para mim, manter objetivos de grande valor no confinamento é questão de sanidade.
Fonte: Portal Uol – https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2020/05/24/como-lidar-com-a-frustracao-de-nao-poder-viajar-por-causa-da-pandemia.htm